Jornalismo não é “playstation”

Por Francisco Júnior

Com 19 anos de estrada, incluídos os valiosos dias de estagiário, posso afirmar a partir de uma convicção ,sustentada tanto pelo que aprendi na universidade e também pela experiência pratica no mercado de trabalho que jornalismo não é “playstation”. Apesar da febre das redes sociais, das inovações tecnológicas e o vendaval de “novidades” e “terminologias” surgidas quando o assunto é jornalismo, o cerne da nossa profissão, onde a palavra é o principal instrumento de trabalho, situa-se no ser humano.

Não é por acaso que o curso de Jornalismo situa-se na área das Ciências Humanas e Sociais e exige-se de quem decide enveredar pelos caminhos deste ofício, o mínimo de sensibilidade para perceber algo tão importante e compreender a exata dimensão do que embora seja tão obvio, parece ser incompreensível para alguns “iluminados”.

Em uma redação seja ela de jornal, revista, TV etc…as coisas necessariamente não acontecem como se estivéssemos dentro de um jogo eletrônico. Embora há quem acredite que tudo funcione assim de forma “automática”, como se as pessoas fossem meros comandos em um controle remoto, e o contexto onde se exerce a práxis jornalística fosse imutável como a tela de um vídeo-game, existindo o botão “ideal” para cada situação. Desta forma, bastaria apenas o simples procedimento de acioná-lo para que tudo se realizasse da maneira imaginada, como em um passe de mágica.

A divergência salutar, o exercício rotineiro da dialética, inerentes ao ambiente do fazer jornalístico são ruídos indesejáveis para quem abraça-se a “mantras” de concepções equivocadas sobre uma atividade onde é primordial a compreensão do que realmente precisa ser valorado.Em discurso, pronunciado recentemente na solenidade de entrega do prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo, Alberto Dines lembrou que na atualidade, os jornalistas cultores da palavra livre, convivem em situações onde “ se sentem aprisionados por um palavrório vazio e perverso, geralmente composto por neologismos.

Detentor de uma respeitável biografia na história da imprensa brasileira, ele contesta a concepção adotada frequentemente nos meios jornalísticos de que o “o mundo é movido por gadgets” e ressaltando o equívoco de quem embarca na convergência desta premissa equivocada alerta: “ O mundo é movido por ideias, por gente. Sócrates, pai da filosofia, não sabia ler nem escrever, estava apenas conectado com a condição humana e inventou o diálogo”.

Embora eu faça parte de uma geração que adentrou ao mercado de trabalho em meados da década de 90, quando muitas das concepções “surreais” sobre jornalismo começavam a a ganhar status de “ valores absolutos” nas redações, nunca me deixei seduzir por este “ canto de sereia”.

Não sei como será uma redação daqui a vinte, trinta ou cinquenta anos, ou quais as novas “palavras de ordem” estarão em voga . Mas de uma coisa tenho plena certeza. Ontem, hoje e sempre, neste ofício, onde as coisas que realmente valem a pena, não podem ter uma mensuração estatística ou monetária, para desespero dos tecnoctratas, o ser humano continuará sendo a peça fundamental, pois como profetiza Alberto Dines: “jamais seremos descartáveis”.

Ao contrario dos jogos eletrônicos, às vezes não da pra apertar o “ restart” ou a tecla “game over”, pois a dialética da práxis jornalística e as próprias condicionantes em que ela se manifesta divergem da concepção tosca sobre algo que pode até parecer “simples” aos olhos do senso comum, mas carrega na sua essência uma complexidade desafiadora.

Nota do blog: apenas uma pausa do corre-corre diário da cobertura política para uma reflexão através do artigo de um amigo sobre os caminhos que o jornalismo no Maranhão está trilhando, que tende a ser perigoso e sem volta.

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