Confundir estratégia de parlamento com posição política seria afundar de vez a esquerda

Partidos de esquerda têm que apoiar Rodrigo Maia e negociar espaços para fazer oposição efetiva e não caminhar para um isolamento ineficaz.

Ter Ideologia e firmeza de posição é essencial na política. Mas confundir isso com excesso para que a ideologia fique apenas em um campo abstrato nunca sendo possível que pelo menos algumas das causas sejam alcançadas de maneira efetiva é burrice.

A esquerda – que já sofre com uma campanha de destruição de imagem desde a ditadura militar quando comunista era “comedor de criancinha” – sofre a grande possibilidade de também perder espaço de conquistas reais se não se organizar para ocupar lugares de fala e poder. E o Congresso Nacional é o primeiro espaço para isso.

É fato inequívoco que Rodrigo Maia será eleito presidente da Câmara dos Deputados. E é uma derrota para o governo Bolsonaro que queria um candidato do PSL mas diante da vitória mais do que clara de Maia, teve que apoiá-lo também. Os partidos que fazem oposição ao governo Bolsonaro sabem que com Maia pelo menos têm diálogo e terão espaço para exercer oposição e conseguir algumas conquistas neste momento tão difícil para a esquerda não só no Brasil, mas no mundo.

O PT anunciou que não apoiaria o atual presidente da Câmara por conta do apoio do PSL. Ora, o PSL chegou depois e o PT já estava conversando com Maia, é o partido de Bolsonaro que está chegando atrasado. Do que adianta lançar uma candidatura própria para perder? Marcar posição? Um exagero que não significa nada para a efetividade das atividades na Casa e que só isolará o partido e o deixará sem espaços para ter oxigênio na luta contra o governo mais opressor de direitos que está iniciando.

PDT e PCdoB anunciaram que irão apoiar Maia e logo o PSB também fechará. Os partidos do maior bloco de oposição sabem que uma coisa é a luta contra o governo e tudo de ruim que representa, outra é a eleição da Casa para não se isolar, ocupando espaços de destaque e conseguindo, por exemplo, barrar projetos que tiram direitos da população dentro de comissões.

O isolamento só levará a oposição a um grupo de mero discurso como nos partidos nanicos sem nenhum poder real para mudar alguma coisa da dura realidade que começou em 1º de janeiro.

Basta trazer para a realidade local. Adriano Sarney foi um dos primeiros deputados a anunciar voto para presidente da Assembleia Legislativa em Othelino Neto, que é do PCdoB e um dos mais leais e próximos do governador Flávio Dino. Adriano fará oposição e seu voto em Othelino não muda isso, porque seu grupo quer ter espaços para confrontar o governo Flávio Dino.

Quem quer fazer oposição dentro do parlamento tem que agir com estratégia para ocupar espaços e a eleição para a mesa diretora é o primeiro passo. Não é uma decisão ideológica, mas de divisão de espaços. O confronto ideológico e de posição política começa no dia seguinte da eleição: 2 de fevereiro.

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