Refinaria de Bacabeira repete o roteiro do polo de confecções de Rosário

refinaria

“Obra do século” enterrou mais de R$ 2 bilhões

A cota de problemas herdados pelo governo Flávio Dino, inclui agora o destino da gigantesca área  destinada a  construção da Refinaria Premium I na cidade de Bacabeira. Anunciada em 2010 como a “obra do século”, o empreendimento foi descartado pela Petrobrás. Ao  lado do Polo de Confecções de Rosário, divulgado na década de 1990 como um dos investimentos mais importante do Maranhão naquela época, a Refinaria Premium tornou-se mais um projeto que acalentou milhares de expectativas especialmente das cidades da região do Munim, berço de grandes cantadores  de bumba meu boi, mas  terminou de forma melancólica  como o enredo de uma toada triste.

Composta por doze cidades, a região do Munim sonhou acordada por duas ocasiões com grandes projetos de desenvolvimento, chancelados inclusive com a vinda da mais alta autoridade do país ao Maranhão.

Na década de 1990, quando  Roseana Sarney, governadora do estado, naquela ocasião, filiada ao PFL, atual DEM, partido da base aliada do então presidente Fernando Henrique Cardoso, contou com a presença de FHC para a solenidade de inauguração do Pólo de Confecções de Rosário.

Em 13 de dezembro de 1996, no primeiro dos quatro mandatos exercidos por Roseana Sarney, na época filiada ao PFL (atual DEM ) o então presidente da Republica, Fernando Henrique Cardoso( PSDB)  descerrou a faixa de inauguração de um empreendimento que nunca se concretizou e alguns anos depois tornou-se alvo de investigação do Tribunal de Contas da União e do Ministério Público Federal, deixando um saldo de centenas de moradores da região endividados por contas de empréstimos obtidos bancários assumidos em nome destas pessoas.

O protocolo de intenções assinado na época entre o governo do Estado e a empresa Kao I,  administrada por Chhai Kwo Chheg,  brasileiro naturalizado, nascido em Tauwan previa a instalação do Polo de ConfeCções de Rosário, destinado a gerar mais de quatro mil empregos, com a  produção anual de sete milhões de camisas. Mas no fim de tudo restaram apenas dívidas milionárias para os integrantes das associações comunitárias criadas por trabalhadores de Rosário que de boa fé acreditaram no empreendimento.

Roseana, Lobão, Lula, Dilma e Sarney anunciaram refinaria com toda pompa

Roseana, Lobão, Lula, Dilma e Sarney anunciaram refinaria com toda pompa

Em janeiro de 2010, era o PT que comandava o país e o então presidente Luís Inácio Lula da Silva foi até a Bacabeira para a solenidade de lançamento da pedra fundamental da Refinaria Premium I.  A obra começou ter as negociações iniciadas ainda no governo Jackson Lago que de maneira discreta tratou dos primeiros contatos com a Petrobrás, destinados a discutir a implantação de uma refinaria no Estado. Cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral(TSE) em abril de 2009, Jackson Lago deixa o Palácio dos Leões e assume o posto a senadora Roseana Sarney.

A partir de então, o tema Refinaria Premium torna-se um assunto constante pautado na mídia maranhense e em janeiro de 2010,  a região do Munim recebe a visita de outro Presidente da República. Desta vez, Luís Inácio Lula da Silva(PT) esteve em Bacabeira para a solenidade de lançamento da Pedra Fundamental da Refinaria Premium I.

Para os moradores da região do Munim e em especial de Bacabeira, não havia dúvidas de que era uma questão de tempo a implantação da Refinaria. Pessoas de outras cidades e até de outros estados fizeram investimentos no munícipio. Centenas de jovens participaram de cursos profissionalizantes voltados especificamente para formar mão de obra destinada a Refinaria Premium I.

Tudo se tornou superlativo em relação ao megaprojeto. No programa eleitoral gratuito, a governadora Roseana Sarney, líder das pesquisas de intenção de votos reforçava o discurso de que em breve a refinaria entraria em funcionamento. Em um  destes programas ela sobrevoou a área destinada a construção da refinaria informando que o empreendimento deveria gerar 150 mil novos empregos e promover um amplo desenvolvimento para Bacabeira e outras cidades da região do Munim

Lava-jato

Toda  contestação ao que seria a maior refinaria do Brasil e a quinta do mundo era visto como uma prova de “ódio ao Maranhão”.  Algumas vezes para se contrapor ao ceticismo, provocado por atrasos no cronograma de obras da refinaria,  setores da mídia maranhense entrevistavam um executivo de alta patente da Petrobrás, Paulo Roberto Costa que fazia questão de   descartar qualquer possibilidade deste empreendimento não ser concretizado.

Em março de 2014, a operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal e Ministério Público Federal teve entre os principais detidos, justamente Paulo Roberto Costa. Por conta dos  desdobramentos das investigações a Petrobrás iniciou o ano de 2015 tendo de rever a viabilidade de alguns projetos, dentre elas as duas refinarias anunciadas para o Maranhão e o Ceará e que em relatórios anteriores da empresa, já não apareciam entre as principais prioridades e decidiu cancelar estes projetos.

Tanto o governo do Ceará quanto o governo do Maranhão já se manifestaram sobre o assunto. No caso do Maranhão, o governo do Estado anunciou a intenção de dialogar com a Petrobrás para discutir a retomada do projeto. Para a população da  Região do Munim, o desânimo foi proporcional ao tamanho da expectativa gerada  por conta do empreendimento, e ainda com um ingrediente mais amargo: a certeza de estar vendo pela segunda vez o mesmo filme e novamente com um final desagradável.