O prefeito distante da folia

Aquiles Emir

Durante as festas de carnaval, não faltaram insinuações maldosas em alguns segmentos da imprensa tradicional e, mais ainda, em blogs sem compromissos com o bom jornalismo, sobre a ausência do prefeito Edivaldo Holanda Júnior dos eventos momescos. Reclamaram até porque não teria aceitado a um convite da governadora Roseana Sarney para participar dos shows promovidos pelo governo do estado.

Vale ressaltar, que no mesmo período em que o prefeito estava recluso – insinuaram até que havia se ausentando da cidade – a presidente Dilma Rousseff também havia se recolhido a uma ilha na Bahia, deixando de prestigiar os maiores desfiles de escolas de samba (no Rio de Janeiro e em São Paulo), de trios elétricos no estado em que se encontrava e de bandas de frevo em Pernambuco, ou seja, optou por ficar de fora do carnaval, assim como Edivaldo Holanda, e ninguém a censurou por isto. É vontade própria, pessoal, de quem não se identifica com um determinado evento.

Só a título de lembrança, foi numa festa de carnaval, no Rio de Janeiro, que o ex-presidente Itamar Franco, apesar dos conselhos do então governador Leonel Brizola para se manter afastado da Marquês de Sapucaí, passou pelo constrangimento de ter de posar para fotos ao lado de uma moça seminua. Foi um escândalo, mas que não abalou a República, embora pudesse ter sido evitado, em respeito à liturgia do cargo, como sempre prega o senador José Sarney (PMDB-AP), que se limitou a dar uma espiada discreta na folia dos conterrâneos, sem muita aproximação.

Se houver uma pesquisa de opinião pública para medir o grau de satisfação ou de insatisfação da população com o gesto do prefeito, certamente os que aprovam serão maioria, até porque quem gosta de carnaval é minoria, e mesmo entre foliões haveria quem desaprovasse sua presença em blocos, palanque e outras manifestações, com ou sem fantasia. O certo é que, para a maioria da população, a atitude mais acertada do senhor prefeito municipal foi na Quarta-Feira de Cinzas, pois enquanto muitos ainda curtiam suas ressacas, ele estava vendo de perto o sofrimento de quem foi atingido pelo rigor das chuvas da terça-feira gorda de carnaval. O prefeito estava vendo os estragos, estudando soluções, enfim, mostrando estar atento aos problemas da cidade, não apenas em momentos de festividades, mas de agonia dos que padecem pela omissão, inclusive, do poder público.

Assim como são indevidas as críticas ao prefeito por querer ficar fora de carnaval, não há porque censurar a governadora Roseana Sarney por ter, estes dias todos, aparecido na mídia fantasiada de fofão, brincando carnaval… Ela gosta, se identifica com a manifestação popular (e não é de hoje) e acredita que agindo assim está exercendo, de maneira correta, seu papel de gestora máxima do estado. Ou seja, pecam pela insanidade os que a reprovam por agir assim. Ela é gente que se entusiasma, que vibra com carnaval, com São João e outras festas populares.

Claro que o prefeito, por pertencer a uma orientação religiosa que condena as festas pagãs e por não se encaixar nestes eventos, não deva ser um ausente total das festas populares, mas cabe a ele escolher aonde ir. Triste seria ficar de fora de encontros em que se debatem temas ligados ao desenvolvimento do município ou mesmo do estado, de prestigiar solenidades de empresários e intelectuais etc. Quando for, os que miraram suas lupas para tentar enxergá-lo entre bêbados no carnaval não o condenem por estar prestigiando estes e aqueles não.

Pensando bem, o político, ao contrário do artista, que deve ir aonde povo está, como diz Milton Nascimento, deve estar é onde o povo precisa. Valeu pelo seu enredo, prefeito.

*Artigo publicado originalmente em O Imparcial desta sexta-feira (15/02).

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