Nicolau Maquiavel

Por Carlos Eduardo Lula

06/05/2011. Crédito: Neidson Moreira/OIMP/D.A Press. Brasil. São Luís - MA. Carlos Eduardo Lula, advogado.No ano de 2013, completaram-se 500 anos de O Príncipe, mais famosa obra de Nicolau Maquiavel. Aos maranhenses, ela nunca serviu tanto, tamanho o conflito político que vivemos. A coluna de hoje, portanto, é dedicada ao autor florentino.

Há muitas tentativas de se explicar O Príncipe, tido como o livro fundador da Ciência Política. Para a maioria dos autores, podemos encarar o livro ou como uma espécie de manual de autoajuda para soberanos ou candidatos a líderes políticos, orientando como lidar com as intrigas e traições da política, ou como uma obra escrita para o povo, a fim de orientá-lo sobre como lidar com os déspotas e os poderosos.

Prefiro concordar com Fernando Henrique Cardoso, que busca uma terceira interpretação à obra. No prefácio à tradução de O Príncipe da Penguin Books, o ex-presidente defende que o livro não é merecedor das críticas históricas clássicas, que sempre o quiseram ter como um manual de cinismo político.

Na verdade, O Príncipe colocou luzes sobre a Política, livrando-a da hipocrisia da Idade Média. Fernando Henrique entende que Maquivel por meio do livro conseguiu demonstrar que a “explicação da Política não depende de uma consulta a valores moralmente superiores, mas a razões autoevidentes, que se revelam por meio das ambições, forças e fraquezas dos homens”.

Ou seja, a busca pelo poder é marcada principalmente pelo interesse próprio, a ambição, a inveja, a vontade de domínio. Maquiavel escreveu seu tratado muito menos como um filósofo e muito mais como um ser humano imerso nas lutas e na cultura política de seu tempo. Seu interesse não era buscar regras universais de comportamento, explicações abrangentes e verdadeiras para a vida, mas detalhar o que havia observado durante o transcurso de sua própria vida.

Maquiavel atuou, portanto, na qualidade de um Conselheiro, um Consultor, alguém que auxilia o Monarca a tomar uma decisão. E que Conselho Maquiavel poderia trazer ao Maranhão atualmente?

Inúmeros, mas destaco aqui o Capítulo XXIV, em que Maquiavel busca explicar porque os príncipes da Itália perderam seus reinos. Diz ele que todos os senhores que na Itália perderam seus domínios tinham um defeito em comum: tinham a inimizade do povo ou, se contavam com a amizade popular, não souberam assegurar-se contra os poderosos.

Se um militar, diz ele, sabe envolver o povo numa batalha e assegurar-se contra os poderosos, pode lutar durante anos contra seus adversários mais temíveis e, se ao final perder o controle de algumas cidades, no entanto manterá preservado seu reino.

Assim, um príncipe que venha a perder seu principado, à frente do qual estive tantos anos, não pode acusar a má fortuna por isso, mas sua própria incompetência. Se o príncipe não pensou em fazer mudanças nos tempos de paz — o que é um defeito comum entre os homens, não prever a tempestade na bonança

— quando depois vierem tempos adversos, pensarão apenas em fugir,
e não em se defender, esperando que o povo, cansado da insolência
dos vencedores, os chame de volta.

Nunca se deve cair acreditando que haverá quem os levante mais tarde, porque as defesas boas e duradouras dependem exclusivamente do príncipe e de suas virtudes, e não de terceiros.

Como podemos ver, nessas semanas que antecedem o dia 04 de abril, a leitura de Nicolau Maquiavel é mais do que recomendada, é necessária.

 

Carlos Eduardo Lula é Consultor Geral Legislativo da Assembleia do Maranhão, Advogado, Presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB/MA e Professor Universitário. e-mail: [email protected] . Escreve às terças para O Imparcial e Blog do Clodoaldo Corrêa

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