Em Congresso, PCdoB e PPL concluem fusão e vencem cláusula de barreira

Reunião dos Congressos Extraordinários PCdoB e PPL.

O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e o Partido Pátria Livre (PPL) concluíram, neste domingo (17), em congresso conjunto, realizado no auditório do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, o processo de unificação das duas legendas. A presidente do PCdoB, Luciana Santos, abriu os trabalhos e disse que “este é um dia que entrará para a história política do Brasil”. “Este será um marco da história das lutas de nosso povo e da vida partidária, porque hoje se fortalece a corrente revolucionária em nosso país”, disse ela.

“A incorporação do Partido Pátria Livre ao PCdoB é um feito de grande magnitude e sentido histórico. É o reencontro de duas correntes revolucionárias que têm a mesma raiz e que fizeram ao longo do seu percurso a defesa da nação, da democracia, do desenvolvimento e dos direitos de seu povo”, destacou.

“A opção firmada por PPL e PCdoB vai muito além do cumprimento burocrático da cláusula de desempenho, que foi imposta como forma de impedir a livre atuação das legendas históricas, que propugnam um projeto transformador para o Brasil”, acrescentou Luciana. “A nossa unidade fortalecerá a resistência a esse governo nefasto”, prosseguiu a presidente do PCdoB.

Sérgio Rubens Torres, presidente do PPL, iniciou seu discurso dizendo que se sentia honrado “em poder ajudar a companheira Luciana a dirigir o PCdoB”. “Para nós, disse ele, “a incorporação é um primeiro passo para a unificação. Nós não aprendemos e não concordamos com uma estrutura partidária que se organiza por tendências. Isso acaba parecendo um casamento com separação de bens, que não é muito próprio para um partido ligado ao mundo do trabalho”. “Essa questão da separação de bens é para quem tem muitos bens. Então nós somos a favor do casamento com comunhão de bens”, disse o dirigente, sob aplausos.

Sérgio Rubens fez referência a um texto do presidente Mao Tse Tung, de 1938, chamado ‘Problemas Estratégicos da Guerra Revolucionária na China’, relacionando-o com as necessidades contemporâneas das forças de oposição no Brasil. “A concentração de forças é um método que geralmente se usa para destruir o inimigo quando ele está na ofensiva. Se o inimigo é mais forte, e está na ofensiva, você precisa concentrar as forças para poder destruí-lo”, disse.

“Quando ele está mais forte e na ofensiva, ele precisa ocupar terreno. Para ocupar terreno, precisa dispersar um pouco as suas forças. Do nosso lado, se nós concentramos as forças, nós ficamos mais fortes do ponto de vista tático, embora estejamos mais fracos do ponto de vista estratégico. Isso porque, onde eu concentro eu fico mais forte do que o inimigo, que não está concentrado porque está sendo obrigado a dispersar forças para a ocupação do terreno”, explicou. “A nossa unificação representa uma primeira resposta a essa situação de ofensiva estratégica do inimigo. Nós sofremos uma derrota. Por isso é vital fazermos a concentração de forças para podermos isolar e derrotar o inimigo”, ressaltou.

“Precisaremos fazer uma política de frente com setores amplos da sociedade. Será unidade em questões pontuais. Na questão da Previdência, por exemplo, alguns setores podem ficar do lado do governo, mas na Escola Sem Partido, não. Eu não posso fazer uma frente neste momento apenas com quem pense uma alternativa ao governo igual à nossa, porque isso seria dar mole para o inimigo. O que está na ordem do dia não é um programa alternativo, mas sim o isolamento do governo”, observou. Na política de isolar o governo, segundo Sérgio Rubens, “é possível que setores que apoiam algumas medidas contra o povo decidam não votar nelas para não fortalecer politicamente Bolsonaro”.

O governador do Maranhão, Flávio Dino, fechou o ato e saudou a unificação do PCdoB e do PPL com grande entusiasmo. Lembrando sua participação no movimento estudantil, ele brincou, dizendo que sempre teve vontade ser do MR8. “Não foi lá, mas foi hoje, e eu me sinto filiado a essa organização que engrandece o Brasil, que é o MR8 e o PPL”, afirmou. “Além da importância histórica deste momento, é que também o Trabalhismo de Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola estão presentes aqui”, disse o governador.

Governador do Maranhão, Flávio Dino, discursa no Congresso. Foto da Karla Boughoff

Flávio Dino denunciou que “o governo está comparecendo servilmente na sede do império para entregar a bandeira nacional ao imperialismo e “nós estamos aqui dizendo que o verde e amarelo pertencem ao povo brasileiro, ao povo pobre do Brasil”.  “Frente democrática sim, para isolar o bolsonarismo”. “Dialogar amplamente”. “Foram 16 partidos que fizeram com que eu possa chegar ao céu um dia, olhar para São Pedro, e dizer, ‘moço, eu sou aquele que derrotou o Sarney duas vezes’”, disse Dino, arrancando aplausos do plenário.

Flávio Dino criticou as medidas anunciadas pelo governo, como desvinculação de receitas e a reforma da Previdência. Ele lembrou que os governadores do Nordeste se reuniram recentemente no Maranhão e decidiram se opor a essas medidas de Bolsonaro e Paulo Guedes. “Frente democrática exige dialogar com diferentes, abrir mão de verdades pré-estabelecidas, os preconceitos, ser generoso no conteúdo e na forma, mas nunca perder a dimensão estratégica. Porque senão, vamos nos diluir, perder nossa identidade. Por dentro da frente democrática, levamos a nossa estratégia, que eu gostaria de sintetizar nesse momento na noção de um patriotismo popular, porque a questão nacional anda de mãos dadas com a questão popular”, disse ele.

Após a fala dos dois presidentes, os delegados dos dois partidos tomaram decisões sobre a pauta dos dois congressos. Foi eleito um novo Comitê Central, uma Comissão Política e uma nova Executiva do PCdoB, já com a presença de membros do PPL. O clima do encontro era de muita emoção com os discursos que se seguiam. O auditório do Palácio do Trabalhador ficou totalmente tomado e bandeiras tremulavam no auditório. Após as votações, os oradores foram se alternando na tribuna para a discussão sobre os caminhos que o novo PCdoB vai tomar após a unificação.

Do Hora do Povo.

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