Escandalizar lista de doações da JBS é misturar “alhos” com “bugalhos”

O jornal O Imparcial entrou na esparrela de alguns Blogs e publicou em sua manchete principal que “Políticos do Maranhão receberam doações do JBS” como se novidade fosse e algo de escandaloso existisse no fato das doações registradas na Justiça Eleitoral.

A doação por si só não tem nenhuma relação com o escândalo da JBS envolvendo Michel Temer, Aécio Neves e Guido Mantega. Não se pode confundir doação legal, registrada (na época era permitida doação empresarial) com pagamento de propina e suborno como nos casos em que a JBS está envolvida no escândalo das delações de Joesley Batista.

Se não há nenhuma evidência de que deputados citados que receberam doação atuaram de alguma forma para beneficiar a doadora durante o exercício do mandato, não tem valor jornalístico o simples fato de ter recebido a doação legal. Se houvesse a descoberta de pagamento por Caixa 2, aí sim teria um fato de relevância.

Assim como a JBS, a Odebrecht, a OAS, Queiróz Galvão e tantas outras empresas doaram para políticos e partidos de A a Z. De PSOL a PMDB, todos os políticos eleitos de 2014 receberam alguma doação de empresa envolvida em algum escândalo.

Listar quem recebeu uma doação legal e registrada de apenas uma empresa porque esta empresa agora em evidência é uma deturpação do valor de noticiabilidade.

Folha: empresa acusada doou R$ 200 mil à campanha de Andrea Murad

RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA (Folha de S.Paulo)

andrearicardoDeflagrada nesta terça-feira (17), a Operação Sermão aos Peixes apontou que um grupo de empresas beneficiadas com recursos públicos supostamente desviados da Saúde irrigou pelo menos 61 campanhas eleitorais no Maranhão. Alguns dos candidatos, segundo a investigação, são parentes do então secretário de Estado de Saúde, Ricardo Murad, cunhado da ex-governadora Roseana Sarney (PMDB-MA).

Levantamento feito pela Folha aponta que uma das empresas investigadas também destinou R$ 1 milhão, em 2010, para a campanha que reelegeu a governadora Roseana, em doação registrada para a direção estadual do PMDB do Maranhão –e outros R$ 730 mil para a direção da sigla no Tocantins.

Relatórios produzidos pela Polícia Federal que integram a decisão tomada pelo juiz da 1ª Vara Federal de São Luís (MA) responsável pelo processo, Roberto Carvalho Veloso, afirmam que o esquema funcionou durante a gestão de Ricardo Murad, entre 2010 e 2014, contra quem a PF pediu uma prisão preventiva sob suspeita de destruição de provas –o pedido estava sob análise do Judiciário até a publicação desta reportagem.

Segundo a PF, duas entidades não governamentais contratadas pela Secretaria de Saúde do Maranhão para gerir unidades hospitalares do Estado, o ICN (Instituto Cidadania e Natureza) e a Bem Viver, contrataram, sem licitação, inúmeras empresas para serviços terceirizados. Esse grupo de empresas recebeu um total de R$ 205,6 milhões em recursos públicos. Na mesma época, essas empresas, de acordo com a PF, beneficiaram campanhas eleitorais com doações registradas na Justiça Eleitoral em um total estimado em R$ 4,9 milhões.

Uma das principais contribuintes de campanha foi a Litucera Limpeza e Engenharia, sediada em Vinhedo (SP). A Litucera recebeu R$ 15,8 milhões da Bem Viver e outros R$ 28,2 milhões do ICN. Desse montante, segundo o relatório da PF, a Litucera destinou pelo menos R$ 1,9 milhão para candidatos nas eleições de 2010, 2012 e 2014.

O juiz federal escreveu: “A autoridade policial logrou demonstrar que além da prefeita eleita [de Coroatá] Maria Teresa Trovão Murad, esposa de Ricardo Murad, a Litucera financiou a campanha de mais 60 candidatos a vereador, sendo que foram eleitos sete vereadores do total de 13 vereadores, que corresponde a 53% do total de vereadores da Câmara Municipal”.

Além de ajudar a mulher do então secretário de Saúde com R$ 186 mil, a Litucera também destinou R$ 200 mil à campanha da filha do casal, a deputada estadual Andrea Trovão Murad (PMDB) e outros R$ 22 mil ao irmão de Maria Teresa, Alexandre Cesar Trovão, hoje presidente da Câmara de Coroatá.

Diversas outras empresas também estão sob a mira da PF por terem recebidos recursos do ICN e da Bem Viver e, ao mesmo tempo, colaborado com campanhas eleitorais, como a Lavatec Lavanderia Técnica, a Tempo Engenharia e o Cobra (Centro Oncológico Brasileiro).

O delegado que atua na Operação Sermão aos Peixes, Sandro Jansen, disse à Folha que a investigação chegou às doações eleitorais ao rastrear o fluxo do dinheiro. Segundo ele, uma investigação sobre eventuais crimes eleitorais poderá ser um desdobramento da operação, desde que se tenha autorização da Justiça Eleitoral ou de outros tribunais, em caso de político com foro privilegiado.

“O dinheiro a gente já sabe para onde vai, agora não sei se esses políticos sabiam da origem desse dinheiro, então não posso incluí-los na organização criminosa. Para chegar a esse ponto, tem que ter autorização dos tribunais. A gente fez acompanhar o fluxo financeiro e ver até onde ele foi”, afirmou o delegado.

A destinação de recursos de empresas terceirizadas para campanhas eleitorais também já havia sido identificada por auditoria da CGU (Controladoria Geral da União), que participa da Operação Sermão aos Peixes. “Nesse emaranhado de irregularidades também releva destacar os casos das empresas duplamente beneficiadas com recursos públicos do Fundo Estadual de Saúde e que efetivaram doações oficias de campanha exclusivamente (no Estado do Maranhão) para familiares do Secretário de Saúde à época dos fatos ou a candidatos do reduto eleitoral desse dirigente”, concluiu a CGU, em auditoria.

Segundo a CGU, “empresas que receberam pagamentos superfaturados foram doadoras, no Estado do Maranhão, exclusivamente para familiares do ex-secretario de Saúde ou para candidatos do município que é o seu principal reduto eleitoral”.

OUTRO LADO

O presidente do diretório estadual do PMDB do Maranhão, Remi Ribeiro, afirmou à Folha que o partido aguarda o desenrolar das investigações para então se manifestar.

“O partido não quer se meter numa ação que ainda está em andamento”, disse Ribeiro, que foi senador em 2011. Ele disse que é preciso analisar as provas coletadas na operação. “Ainda tem muito ‘se disse’, ‘se fala’. Isso não é prova”, disse o político.

Segundo o presidente do PMDB, as doações eleitorais não configuram ilícito. “São empresas. É só o PMDB? O que se pode afirmar? Está na prestação de contas e isso será apurado na doação oficial. Pode ter um contrato [com serviço público] sem ter interferência do candidato ou do partido”, disse Ribeiro.

Ricardo Murad é procurado pela Folha desde a manhã desta terça-feira (17) para se manifestar sobre o assunto, mas não foi localizado. Foi deixado recado em sua residência na noite do mesmo dia, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.

Folha entrou em contato por telefone com a sede da empresa Litucera. Uma atendente, que preferiu não se identificar, informou que a empresa “não se manifesta pela imprensa”.

No telefone registrado em nome do Cobra, uma atendente informou que a empresa mudou de endereço. No novo endereço, uma funcionária disse que não poderia dar quaisquer informações à imprensa. Foram deixados recados na Litucera e no Cobra. Representantes das empresas Tempo e Lavatec não foram localizados. No telefone da Prefeitura de Coroatá (MA), ninguém atendeu às chamadas.

Empresa investiu R$ 500 mil para campanhas em Coroatá; veja os beneficiados

ricardoteresaA relação das empresas investigadas na Operação “Sermão aos Peixes” e campanhas eleitorais fica cada vez mais clara. Uma das empresas relacionadas ao desvio de R$ 1,2 bilhão da saúde do estado, fez um alto investimento na campanha eleitoral dos aliados do ex-secretário de Saúde, Ricardo Murad, nas eleições de 2012 no município de Coroatá.

A prefeita da cidade, Teresa Murad (PMDB), esposa do ex-secretário, recebeu da Litucera R$ 186 mil. O investimento total na campanha para 61 candidatos foi de R$ 568.975,00. Dos candidatos a vereador apoiados por Murad e eleitos com um aporte financeiro da Litucera, sete se elegeram.

A relação entre os desvios da Saúde e uso do dinheiro com fins eleitoreiros será investigada na segunda etapa da operação “Sermão aos Peixes”.

Confira os beneficiados com doações da Litucera:

Prefeita

Teresa Murad (PMDB) – R$ 186.000,00

Vereadores

Cesar Trovão (PV) – R$ 22.650,00

Marcos (DEM) – R$ 11.850,00

Riba Maia (PSC) – R$ 7.675,00

Wlisses Muniz (PMDB) – R$ 12.350,00

Camilo (DEM) – R$ 11.550,00

Josean Veras (PSC) – R$ 6.875,00

Jocimar (PMDB) – R$ 17.200,00

Suzano foi a única doadora de campanha do PMDB

Entrosamento de Roseana com a Suzano é antiga

Entrosamento de Roseana com a Suzano é antiga

Ainda sobre a primeira parcial de doações de campanha, o comitê do PMDB, partido do candidato Edinho Lobão e da governadora Roseana Sarney, recebeu R$ 159.187,64. Esta foi a única doação declarada pelo diretório estadual do partido. 

A Suzano papel e celulose inaugurou fábrica em Imperatriz em março deste ano em um investimento de R$ 6 bilhões. A Suzano abandonou os investimentos no Piauí. O governador do Piauí, Wilson Martins, explicou, à época, que deu a empresa todos os benefícios possíveis para implantação dos projetos da Suzano papel e celulose, mas a empresa queria mais garantias. Ao perceber que a proposta traria mais prejuízos do que benefícios ao estado, o Piauí abriu mão.

incentivosuzano

Site do governo anunciou incentivo à Suzano

No Maranhão, o governo do estado garantiu o escoamento da produção, bem como deu todas as demais garantias de instalação da empresa no estado. O governo promoveu a isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, através do ProMaranhão. 

Edinho já arrecadou R$ 500 mil somente da Franere

Edinho registrou ter recebido apenas doações do genro na primeira parcial

Edinho registrou ter recebido apenas doações do genro na primeira parcial

O Tribunal Regional Eleitoral divulgou a primeira parcial da prestação de contas dos candidatos que concorrem ao pleito deste ano. O candidato ao governo do estado, Edinho Lobão (PMDB) já arrecadou R$ 500 mil para a campanha. Todo o recurso foi doado pela empresa do genro, Marquinhos Regadas.

A Franere Participações S.A. doou R$ 200 mil e a Franere, Comércio, Construções e Imobiliária LTDA doou outros R$ 300 mil.  Do total arrecadado, Edinho já gastou R$ 385 mil com empresas gráficas, de assessoria jurídica e marketing.

Josivaldo Corrêa (PCB) arrecadou R$ 600 doados por ele mesmo e ainda não teve gastos registrados.

Saulo Arcangeli (PSTU) recebeu R$ 1.350 de pessoas físicas. 339,90.

O TRE anunciou que 71 candidatos a deputado federal e 173 a estaduais deixaram de prestar contas.