O Globo, de BRASÍLIA — Líderes partidários se reuniram nesta quinta-feira e decidiram marcar a eleição para presidente da Câmara na próxima terça-feira, contrariando decisão do presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), que havia convocado o pleito para quinta-feira, último dia do prazo regimental, de cinco dias úteis após a renúncia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) do cargo.
A decisão esbarra em um problema: o presidente da CCJ, Osmar Serraglio (PMDB-PR), havia cancelado sessão da Comissão marcada para segunda e convocado nova reunião para terça à tarde. Como O GLOBO informou, o peemedebista, porém, é parte em um acordo, articulado junto a parlamentares da base, de fazer voltar o processo de Cunha ao Conselho de Ética em troca da renúncia do deputado afastado.
Irritados com o acordo de líderes da base, PSDB, DEM, Rede e PSB se retiraram da reunião. Mesmo assim, segundo líderes da base, a decisão teve respaldo de 280 deputados, mais que os 257 necessários para derrubar a decisão de Maranhão. A eleição começará a partir das 13h59m de terça-feira, e o prazo de inscrição de candidatos vai até o meio-dia. Só na base aliada de Michel Temer já se contabilizam pelo menos 10 candidatos, o que deverá rachar a base.
Na mesma hora, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) começou a recolher assinaturas, através de um requerimento de convocação extraordinária, para que a sessão da CCJ volte à data original e aconteça na segunda-feira. Se conseguirem 22 assinaturas, um terço do número de integrantes da Comissão, ela volta a ocorrer na segunda.
Com a decisão da maioria dos parlamentares, com forte adesão dos partidos da base aliada de Michel Temer, a definição sobre o futuro do mandato de Cunha, tanto na CCJ quanto no plenário da Câmara, deverá ficar para depois da eleição para o novo presidente da Casa, o que deve beneficiar o peemedebista.
DATA BENEFICIA CUNHA, DIZ DEPUTADO
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), que se retirou da reunião, disse que a convocação do encontro violou o regimento da Câmara e que a data beneficiará Eduardo Cunha.
— É uma reunião antirregimental, convocada violando o regimento interno e que tem por objetivo marcar eleição do presidente da Câmara antes de resolver o caso de Eduardo Cunha. As coisas estão ligadas. Evidentemente, isso ajuda a salvar o mandato de Cunha, é isso que está por trás. E nós não vamos participar dessa vergonha — criticou.
Candidato à sucessão de Cunha, o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), negou que haja uma ofensiva para salvar o mandato de seu aliado.
— Você acha que tem 423 deputados articulando para salvar alguém? Se fosse pra salvar alguém então salvaria no plenário. Passaram por aqui 423 representando seus partidos, e 280 quiseram a eleição na terça-feira. Onde está a articulação nisso? Na democracia, vence quem tem voto. Quem grita não consegue nada — afirmou.
Perguntado se não era ruim marcar a eleição para a mesma hora da sessão da CCJ, o que na prática inviabiliza a reunião da comissão, ele disse que o mais importante é eleger um novo presidente para a Câmara.
— Ruim é a Casa ficar sem presidente. A Casa não suporta ter o presidente que tem hoje, que todo dia muda de posição. Essa foi a razão da reunião de líderes, e a maioria decidiu eleição imediata.
Primeiro secretário da Câmara, também candidato ao cargo antes ocupado por Cunha, Beto Mansur (PRB-SP) também defendeu a eleição o mais rápido possível:
— Nos reunimos para definir e resolver o problema da eleição da Casa. Vocês sabem muito bem que essa administração tri-partidária de Beto Mansur, Giacobo e Waldir Maranhão não deu certo.
O líder do governo, deputado André Moura (PSC-PE), voltou a dizer que o governo não vai interferir nem no processo de cassação de Cunha nem na sucessão do deputado afastado.
— Não haverá intervenção do governo nem no processo de sucessão da Câmara e nem no processo de cassação de Eduardo Cunha.