De O Globo
CURITIBA E BRASÍLIA — As revelações mais contundentes feitas pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa desde o início do acordo de delação premiada há menos de duas semanas estão relacionadas a políticos do PMDB. Segundo uma fonte que acompanha o caso, as acusações mais pesadas recairiam sobre a governadora do Maranhão Roseana Sarney (PMDB), por supostas ligações com o doleiro Alberto Youssef.
Após o feriado em Curitiba, o Ministério Público Federal deve retomar nesta terça-feira a série de interrogatórios com o ex-diretor da Petrobras.
Costa não foi o primeiro a se referir à ex-governadora. Em depoimento à Polícia Federal em agosto, Meire Poza, ex-contadora de Youssef, disse que o doleiro pagou R$ 6 milhões para integrantes do governo do Maranhão em troca da liberação do pagamento de uma dívida do estado com a Constran.
Youssef foi preso em 17 de março, em São Luís. Ele teria sido detido após entregar R$ 1,4 milhão em espécie a um homem conhecido como “Marcão”, supostamente ligado a funcionários do alto escalão do governo maranhense.
O ex-diretor da Petrobras teria citado outros negócios de Youssef no Maranhão ligados à Petrobras. Costa tem prestado depoimento a procuradores da República e a delegados da PF desde 29 de agosto. O acordo de delação premiada teria sido feito por Costa para proteger suas duas filhas e um genro, que estavam sendo investigados por destruição de provas. Ele estaria com medo de que elas também fossem presas.
Segundo a revista “Veja”, Costa citou os nomes dos presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN); do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL); dos ex-governadores Sérgio Cabral (PMDB) e Eduardo Campos (PSB), morto em acidente aéreo em agosto; e do tesoureiro do PT João Vaccari Neto, entre outros.
Os depoimentos estão sendo criptografados e enviados ao ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Caberá ao ministro examinar a consistência das acusações e decidir se ele receberá o benefício da delação premiada.
Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, um dos advogados de Roseana, negou que ela tenha cometido irregularidades. Segundo ele, Rosena esteve em três momentos com Paulo Roberto Costa. Kakay reclamou do vazamento parcial da delação do ex-diretor da Petrobras:
— Uma revista diz que ele (Costa) falou da Roseana. Falou o quê? Ninguém sabe. Isso é horrível. Esse é o problema da delação premiada. A pessoa escolhe contra quem vai falar. Ela pode omitir acusações contra alguns e aumentar contra outros. E pronto, a pessoa (acusada) já está condenada — afirmou.
O advogado de Yousseff, Antonio Figueiredo Basto, negou que oferecimento de propina:
— Meu cliente não entregou dinheiro a político nenhum. Quem tem que provar isso é o Paulo Roberto. O Alberto Youssef está até mesmo disposto a fazer uma acareação com ele.