Fracasso das manifestações sem pautas da direita

Foi um verdadeiro fracasso as manifestações realizadas neste domingo (26). Não sei sequer definir o ter das manifestações capitaneadas pelo MBL. Não é fácil definir se eram favor da Lava Jato, fim do foro privilegiado, pelo armamento, pela volta da ditadura militar ou se era a favor ou contra as reformas do presidente Michel Temer.

Em São Luís, o protesto reuniu 30 pessoas em frente à Assembleia Legislativa. Os manifestantes falaram em duas patas objetivas: contra a votação em lista fechada, o foro privilegiado e contra o desarmamento. A segunda, uma tenebrosa pauta pela instauração de um faroeste. Além destas, palavras subjetivas como “fim da corrupção”, “somos todos Sérgio Moro” ou coisas deste tipo.

MBL e o Vem pra Rua conseguiram de fato mobilizar muito a sociedade contra o governo da presidente Dilma entre 2013 e 2016. Em uma mobilização alinhada com a grande mídia foi possível realizar grandes protestos contra o PT. Mas o objetivo principal dos poderosos já foi alcançado com o impeachment da presidente Dilma.

Movimentos do MBL estão agora sem o mesmo amparo midiático. Agora, a depredação de tudo que está aí na política (antes defendida) não é interessante para os detentores do poder econômico, pois atrasa a recuperação da economia.

O MBL está perdido sem saber ao certo qual a sua bandeira agora. O grupo foi massacrado nas redes sociais ao defender as reformas da previdência e trabalhista, que tiram direito dos trabalhadores. O apoio do grupo à gestão de Temer é o seu fim enquanto movimento de grande proporção.

O grupo hoje não tem razão de ser.

Olavo de Carvalho, o ‘parteiro’ da nova direita que diz ter dado à luz flores e lacraias

Olavo de Carvalho tornou-se ‘porta de entrada’ para novos conservadores no Brasil e se diz responsável manifestações de rua recentes

Olavo criticou o MBL e Reinaldo Azevedo. “O pessoal comunista nunca mentiu a meu respeito tanto quanto essa turma da direita emergente”. E defende a ocupação de estados de poder fora do Estado (escolas, igrejas, centros comunitários) como esquerda sempre fez. “Ali que está o poder”. 

 

Da BBC
Por João Fellet

Sobre a cama onde dorme, afixou uma espingarda Remington calibre 12. No cômodo vizinho, ao lado de uma caixa com brinquedos, espalhou mais de 30 rifles de caça. Em frente à mesa onde trabalha, pendurou pistolas e revólveres.

É dali que Carvalho faz as transmissões diárias de seu curso de filosofia, escreve para cerca de 500 mil seguidores nas redes sociais e trava os embates que o tornaram uma das figuras mais conhecidas e controversas da corrente que vem sendo chamada de nova direita brasileira – grupo ao qual, paradoxalmente, diz não pertencer.

“Eu quis que uma direita existisse, o que não quer dizer que eu pertença a ela. Fui o parteiro dela, mas o parteiro não nasce com o bebê”, afirma. “Estou contra o comunismo e quero que o Brasil tenha uma democracia representativa efetiva”, diz.

Nascido em Campinas (SP) há 69 anos, professor de filosofia sem jamais ter concluído um curso universitário e adepto da teoria de que a “a entidade chamada Inquisição é uma invenção ficcional de protestantes”, Carvalho acumula desafetos com a mesma intensidade com que é defendido por seus admiradores.

O filósofo recebeu a BBC Brasil na casa modesta de dois andares onde está morando num bairro arborizado de Petersburg, cidade histórica com 30 mil habitantes. Crítico feroz do PT, ele reagiu à queda de Dilma Rousseff com ceticismo. No Facebook, escreveu que o impeachment não passou de uma “manobra para a salvação da classe política”.

Elogia Michel Temer ao mesmo tempo em que diz considerar seu governo ilegítimo. “Sem dúvida, é melhor que a Dilma – pelo menos sabe falar português, é um homem de uma certa cultura – e não se pode negar que na área econômica está fazendo aguma coisa que tem de fazer mesmo.”

Mas diz que, vice na chapa de Dilma, o presidente “não tem rabo preso, ele é um rabo preso”, e que a dupla se reelegeu num pleito com “transparência nenhuma”. “O governo é 100% ilegítimo. Não estou dizendo que há ou houve fraude eleitoral, o sistema que montaram já era uma fraude.”

Estrutura de poder

Expulso o PT do governo, Carvalho diz que a direita brasileira começa a se organizar nas ruas. Perguntado a que se deve a transformação, responde em francês: “C’est moi” (Sou eu).

Segundo o escritor, foram seus livros que encorajaram outros conservadores a sair do armário. Mas ele diz que o país ainda não tem uma “representação institucional da direita”, como jornais diários, universidades ou partidos que defendam o liberalismo econômico e valores tradicionais.

“Você tem de um lado 20 partidos de esquerda e do outro um ou outro cara que se diz de direita, mas nem sabe direito o que é isso”, afirma, entre goles de café e cigarro entre os dedos.

Segundo Carvalho, a esquerda dominou a imprensa e as universidades brasileiras há várias décadas em estratégia que seguia o suposto ideário do marxista italiano Antonio Gramsci (1891-1937). O objetivo, diz ele, era criar uma “atmosfera mental” em que a população se tornasse socialista sem perceber.

“No fim, conquistaram tudo: os partidos políticos um por um, eliminaram todas as opções possíveis através de denúncias de corrupção, queimaram milhares de reputações, ficaram sozinhos no meio do campo e conquistaram a cereja do bolo, a Presidência da República”, diz.

O filósofo afirma que “atualmente é obrigatório estar na direita”, mas que não mantém “compromisso com nenhuma política em particular”.

Para ele, mais importante que tirar o PT do poder é “quebrar o sistema” e implantar no Brasil uma “democracia plebiscitária”, em que o governo submeta suas propostas a referendos constantes. O filósofo diz que o modelo foi aplicado na França por Charles de Gaulle, nos anos 1960.

Racha na direita

As opiniões de Carvalho sobre o impeachment agravaram um racha entre o escritor e outras vozes influentes da direita com quem ele manteve boas relações no passado, como o colunista da revista Veja Reinaldo Azevedo e o economista Rodrigo Constantino.

Para Azevedo, ao defender uma democracia plebiscitária, Carvalho propõe a mesma agenda que o PT gostaria de implantar no Brasil. Alguns analistas compararam o modelo ao que foi adotado por Hugo Chávez na Venezuela.

Em artigo em que chama o filósofo de “mascate da paranoia” e de “Aiatolavo” (em referência ao aiatolá, líder religioso dos muçulmanos xiitas no Irã), Azevedo diz que Carvalho “se alimenta do insucesso dos que lutam contra a esquerda”.

Para Carvalho, Azevedo e outros desafetos almejam ser representantes da direita e têm ciúmes de seu pioneirismo. “O pessoal comunista nunca mentiu a meu respeito tanto quanto essa turma da direita emergente”, diz.

“Eu não quero ser representante de direita nenhuma, só fiz meu serviço que era abrir o espaço para eles poderem falar. Naturalmente, quando você destampa, aparecem junto com as flores as cobras, aranhas, lagartos, lacraia, toda a porcaria vem junto.”

Carvalho também critica o Movimento Brasil Livre (MBL), que após militar pela queda de Dilma teve alguns de seus membros se lançando na política institucional. De acordo com o site do MBL, nove de seus integrantes se elegeram por cinco partidos diferentes (um deputado federal e oito vereadores).

Segundo o escritor, a direita deveria se concentrar em ocupar espaços não no Estado, mas “na igreja, nas escolas, nas sociedades de amigos do bairro, no clube: é ali que está o poder”.

“Os comunistas sempre souberam disso. O pessoal da direita chegou agora, leu três artigos do Olavo de Carvalho, já acha que sabe tudo e quer ser senador, presidente da República. Um bando de palhaços, evidentemente.”

O MBL não respondeu ao pedido da BBC Brasil para comentar a fala do filósofo. O Instituto Liberal e o Vem pra Rua, outras organizações influentes entre conservadores, tampouco quiseram se pronunciar sobre Carvalho e sua obra.