Empregada doméstica usada como funcionária fantasma por Maura Jorge abre o verbo

Jornal Pequeno – “Se eu fosse uma pessoa estudada não tinha acontecido isso”, lamenta Gercina Vieira (72 anos) sobre seu conturbado envolvimento com a candidata ao governo do Maranhão pelo PSL, Maura Jorge. No final da década de 1990, Gercina trabalhou como empregada da família da candidata e do dia pra noite descobriu que usaram seu nome para manter uma funcionária fantasma no gabinete de Maura Jorge, então deputada estadual. O caso nunca foi esclarecido e até hoje tramita na Justiça. Em entrevista ao Jornal Pequeno, Gercina Vieira falou pela primeira vez à imprensa sobre o assunto.

Tudo começou em 1998, quando dona Gercina saiu do município de Lago da Pedra para trabalhar em São Luís, como doméstica na casa da ex-deputada estadual. Para melhorar a renda familiar, dona Gercina não titubeou, aceitou a proposta e por lá passou quatro anos.

Assim como Maura Jorge, dona Gercina é evangélica e confessa que viveu bons momentos trabalhando ao lado da política e de seus familiares, apesar de receber apenas um salário mínimo por mês e não ter direito à carteira assinada.

Os problemas só surgiram em 2005, quando ela tinha 60 anos e tentou se aposentar. No INSS veio o susto: sua aposentadoria foi indeferida. Ela foi informada que tinha débitos por ter atuado como assessora na Assembleia Legislativa entre os anos de 1999 e 2003, função que nunca ocupou e pela qual nunca recebeu remuneração.

Para dona Gercina, ela foi vítima de um golpe. Sem consentimento, Maura Jorge teria usado a assinatura da emprega doméstica para manter uma funcionária fantasma em seu gabinete. Foram pagos em nome de Gercina Vieira mais de R$ 170 mil em quatro anos.  Dinheiro público que ninguém sabe aonde foi parar.

Golpe

A empregada doméstica alega que o golpe aconteceu durante o primeiro mandato de Maura Jorge como deputada. “Nesse mandato foi que ela foi por de trás, formou a quadrilha lá na Assembleia e fizeram isso sem eu saber, porque quando é pra fazer um erro desses tem que ter uma quadrilha”, ressaltou.

Na época, dona Gercina só sabia assinar o próprio nome. Maura Jorge lhe prometeu ajuda para construir uma casa, e para isso pediu que assinasse alguns documentos. A doméstica recebeu R$ 1 mil após assinar os tais papéis no extinto Banco do Estado do Maranhão (BEM).

Mas Gercina estranhou a relação entre a “ajuda” que recebeu e valores referentes a pagamentos de Imposto de Renda. “Quem paga imposto de renda tem qualquer coisa e eu não tenho nada. Porque que eu tô envolvida com Imposto de Renda?”, questionou.

“Por telefone, ela [Maura Jorge] respondeu: mulher te cala que tu não tá sabendo de nada. Eu tô te dando é uma ajuda. E eu inocentemente pegava”, contou.

Viúva e criando dois filhos, Gercina Vieira diz que “não pode comprar nada” porque ficou com o nome sujo na praça. Ela diz não saber o tamanho da sua dívida, mas a filha da doméstica acredita que “deve ser um valor muito alto, pelos órgãos que o nome dela andou, na União Federal, na Receita e pelos anos que [o caso] não foi resolvido”.

Sem acordo

Com a esperança de um dia se aposentar, Gercina diz que já tentou um acordo amigável com Maura Jorge, mas a resposta sempre foi negativa. “Ela nunca quis acordo com ninguém. Ela mandou dizer que só falava comigo quando essa questão terminasse. Que não tinha coragem de olhar no meu semblante”, disse.

Em 2009, Gercina protocolou uma representação criminal contra Maura Jorge por ter sido admitida, sem a sua anuência, como assessora parlamentar. Com base na denúncia, o Ministério Público do Maranhão ingressou com uma ação civil pública por improbidade administrativa contra a ex-deputada.

Ao Jornal Pequeno, Gercina relatou que se sentiu frustrada com a situação e espera uma resposta favorável da Justiça. Enquanto isso, ela segue há 13 anos tentando se aposentar. A doméstica diz que não quer “descer à terra fria e deixar esse problema no ar” e achou importante rememorar a polêmica porque “o povo do Maranhão tem que saber quem é a doutora Maura Jorge”.

“Alguém pode querer votar nela, mas é sabendo o que aconteceu com a pobre viúva lá de Lago da Pedra. Eu ainda tô viva! A história tá enterrada, mas pode ser desenterrada. Eu tô entregando nas mãos da Justiça”, desabafou.

Para dona Gercina, ela só não foi presa porque conta com a ajuda de Deus e de um advogado. “Com essas contas que eu fiquei, que ela deixou tudo no meu nome, eu já estaria presa”, disse.

Em fevereiro deste ano, após audiência na Justiça sobre o processo, Maura Jorge disse a um blog de São Luís que a acusação não tem fundamento, e que tem “certeza que à Justiça continuará primando pela verdade”.