Ricardo Mendonça
Folha de São Paulo
A gestão das urnas eletrônicas nos 217 municípios do Maranhão ficará a cargo de uma empresa cujo dono tem vínculos com o marido da governadora Roseana Sarney (PMDB), Jorge Murad. E ainda há indícios de ligação com o próprio candidato a governador do grupo político do ex-presidente José Sarney, o senador Lobão Filho (PMDB).
Vencedora de uma licitação promovida pelo TRE-MA (Tribunal Regional Eleitoral), a Atlântica Serviços Gerais foi contratada em 28 de agosto por R$ 2.999.499 para cuidar de uma série de serviços com as urnas no dia da eleição.
A firma deverá colocar 616 empregados para fazer, entre outras coisas, transporte e armazenamento dos equipamentos, troca de máquinas com defeito, carregamento de softwares e transmissão dos resultados para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Até 2010, parte disso era feito por uma única empresa contratada pelo TSE. Neste ano, o leque de atividades terceirizadas aumentou e a contratação foi descentralizada. Cada um dos 27 TREs faz a sua.
A Atlântica pertence ao empresário Luiz Carlos Cantanhede Fernandes, que tem ligações com membros do clã Sarney, que domina a política local há décadas.
Em 2002, quando Roseana era pré-candidata à Presidência pelo PFL (atual DEM), Cantanhede ficou conhecido quando a Polícia Federal, numa apuração sobre caixa dois, apreendeu R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo na empresa Lunus, de Roseana e Murad.
Ao falar sobre a origem do dinheiro, Murad afirmou que uma parte era de Cantanhede, seu sócio numa pousada.
Já a proximidade com Lobão Filho, primogênito do ministro Edison Lobão (Minas e Energia), tornou-se pública em 2012, quando um iate naufragou na baía de São Marcos, na costa de São Luís.
Cantanhede era um dos tripulantes. Após o susto, ele deu entrevista à imprensa local. Um dos veículos registrou uma fala do próprio empresário explicando que a lancha era dele e de Lobão Filho “em cotas de 50% cada um”.
Em nota, Lobão Filho afirmou que vendeu uma lancha para Cantanhede, mas que eles nunca foram sócios.
DOCUMENTAÇÃO
Na disputa pelo contrato do TRE-MA, a Atlântica apresentou apenas o sexto melhor preço do pregão eletrônico. Três empresas com preços melhores foram desclassificadas por erros na documentação. Outras duas não confirmaram a proposta original.
A suspeição por proximidade com um dos candidatos não é a única dúvida que paira sobre o contrato firmado entre o TRE-MA e a Atlântica.
Na segunda (8), o presidente do PC do B local, Marcio Saraiva Barroso, entrou com uma representação no TSE pedindo cancelamento da licitação por “ilegalidade”.
Barroso afirma que a empresa entregou um documento falso no processo licitatório para comprovar seus índices de liquidez e solvência.
O papel anexado como sendo da Atlântica Serviços Gerais é da Atlântica Segurança, uma outra empresa de Cantanhede, com outro CNPJ.
A Atlântica Segurança tem contratos com alguns órgãos do governo Roseana. O mais conhecido é o da terceirização da guarda do complexo penitenciário de Pedrinhas, no interior do Estado, palco de mais de 60 assassinatos de presos em 2013, muitos deles com tortura e decapitação.
Cantanhede não foi encontrado para comentar. O TRE-MA diz que só o timbre do papel anexado estava errado, não o conteúdo.