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Para “O Globo”, Sarney é a influência mais forte do Governo Temer e tem poder para nomear titulares de ministérios, estatais, agências…
O Globo com edição – matéria de 07/01/2018
BRASÍLIA – No dia 17 de maio, quando a República balançou com a divulgação de gravações do empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer quase caiu, um endereço de Brasília disputou com o Palácio do Jaburu a romaria de autoridades, ministros e políticos candidatos a um eventual mandato-tampão. Eles buscavam conselhos e apoio para o day after na mansão do ex-presidente e ex-senador José Sarney, estrategicamente localizada na península dos ministros, ao lado das residências oficiais da Câmara e do Senado.
Pai do ministro do Meio Ambiente, Zequinha Sarney, com 56 anos de vida pública encerrados em 2015, o político maranhense transitou pelo regime militar e por todos os governos como uma espécie de oráculo. Hoje, mesmo sem mandato, mantém, aos 87 anos, força comparável a quando era o todo-poderoso do Senado: dá pitaco nas grandes questões nacionais e veta ou apoia indicação de ministros ou ocupantes de outros cargos estratégicos, como ministros de tribunais superiores e até o comando da Polícia Federal.
Para boa parte dos cotados a cargos em ministérios, diretorias de agências reguladoras, tribunais superiores, de contas, um dos primeiros caminhos é bater à porta de Sarney.
O caso recente e rumoroso foi o veto à indicação do deputado maranhense Pedro Fernandes (PTB) para o Ministério do Trabalho, por ele ser ligado ao grupo do governador Flávio Dino (PCdoB), maior adversário do clã Sarney hoje. Outra demonstração de poder foi o apoio à nomeação do atual diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia. Segundo aliados, o ex-presidente não entra em questões que considera irrelevantes.
Como aposentado, Sarney tem três prioridades em sua agenda nada tranquila: a política, a literatura e os cuidados com a saúde da mulher, dona Marli. Pela manhã ou à noite, na mansão, Sarney recebe autoridades, como os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), ministros do governo e chefes de outros poderes. À tarde, no escritório de quatro salas num shopping no centro de Brasília, que chama de instituto, a romaria é de prefeitos, deputados e candidatos a qualquer cargo que fazem fila para buscar conselhos e apoio de Sarney em pendências na Esplanada.
– Tenho rotina de aposentado: hidroginástica e caminhada em dias alternados pela manhã. À tarde, das 15h às 19h, no instituto, recebo não autoridades, mas amigos, pois, na vida inteira, nunca gostei de fazer inimigos. Por isso, capim não cresceu em minha porta. Tenho, como o melhor coisa da vida, o gosto da convivência – explica Sarney.
No dia da quase queda de Temer, foram a Sarney, por exemplo, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), naquele momento um dos nomes cotados para uma eleição indireta pelo Congresso para um mandato-tampão no Planalto. Também foi se aconselhar sobre o que fazer e que regras adotar, o presidente do Senado, Eunício Oliveira, então responsável pelos caminhos a seguir em caso de renúncia de Temer.
– Eu seria o responsável pela sucessão se Temer renunciasse e teria que definir as regras. Fui lá e disse: queria ouvir do senhor o que acha. Se você tem uma angústia, naturalmente procura alguém mais experiente, vai lá, bota para fora, ele ouve, pondera e faz uma análise do que você colocou sem trazer seus sentimentos pessoais – diz Eunício, que, uma vez por semana, também recebe o político maranhense na residência oficial para uma taça de vinho e conversas sobre a conjuntura.
– Tasso e Eunício são meus velhos amigos. Não foram à minha casa pedir aconselhamento. A pauta de nossas conversas é a que nos dá os jornais diariamente. Sobre atualidades e notícias – conta Sarney.
Já Rodrigo Maia foi levado pela primeira vez à casa de Sarney pelo deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), que estreitou os laços com o ex-presidente no Senado. Heráclito foi solidário com Sarney no escândalo dos chamados atos secretos que encobriram contratações irregulares de parentes e concessão de benefícios indevidos para senadores e dirigentes do Senado.
Sarney gosta de parecer poderoso. No caso da indicação de Segóvia, por exemplo, toda a mídia destacou seu apoio ao novo chefe da PF. Como no caso do veto ao deputado Pedro Fernandes para o Ministério do Trabalho, ele sempre nega, mas, para os próximos, admite que gosta. No dia seguinte à indicação de Segovia, numa conversa com um dos amigos que o visitaram no instituto, Sarney disse:
– Segovia tocou o processo contra Roseana e não fez nada indevido. Não fui eu que indiquei, mas se me perguntarem se eu gostei… Gostei.
O vice-governador do Maranhão, Carlos Brandão, lamenta que a eventual interferência de Sarney tenha tirado do estado a possibilidade de ter um ministro. Ele acusa Sarney e seu grupo de ter um único objetivo: não deixar o governo de Flávio Dino dar certo e colocar a filha, Roseana, de volta ao Palácio dos Leões. Além de Roseana governadora, o projeto é reeleger os senadores João Alberto (PMDB-MA) e Edison Lobão (PMDB-MA).
Além de indicar e vetar nomeação de autoridades, Sarney e seu grupo são acusados de boicotar o projeto de privatização da Eletrobras, feudo de senadores do Norte, como o líder do governo Romero Jucá (PMDB-RR) e o senador Eduardo Braga (PMDB-AM). Esse grupo controla as distribuidoras da Eletronorte no Norte e Nordeste e agora Sarney e Lobão articulam a indicação de André Pepitone para a Aneel.
– Não sou contra a privatização do setor elétrico. Acho que não pode ser feita atingindo empresas que fazem parte da soberania e interesse nacionais. Mas, em geral, o estado é um péssimo administrador – defende-se Sarney.
De acordo com a Folha de São Paulo, Temer ouve Sarney e desiste de nomear Pedro Fernandes para o Trabalho
Da Folha de São Paulo
O deputado federal Pedro Fernandes (PTB-MA), que havia sido escolhido para comandar o Ministério do Trabalho, não será mais empossado nesta quinta-feira (4).
Segundo a Folha apurou, o ex-presidente José Sarney (MDB) não referendou o nome do parlamentar, que é alinhado ao governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB.
Sem o aval de Sarney, o presidente Michel Temer pediu ao PTB que indicasse outro nome. Fernandes recebeu a notícia na manhã desta terça-feira (2) do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson.
A decisão do presidente causou desconforto na bancada do PTB na Câmara dos Deputados. “Não aceitamos outra indicação. A indicação do Pedro Fernandes é a do partido”, disse o líder Jovair Arantes (PTB-GO).
O nome de Fernandes estava desde a semana passada sob avaliação do setor de inteligência do Palácio do Planalto, que costuma realizar levantamento sobre os antecedentes dos ministros para efetivar a nomeação.
O PTB ainda não tem um novo nome para indicar para o lugar de Fernandes, que esperava assumir a pasta ainda nesta semana.
O Ministério do Trabalho está sem titular desde que o também deputado federal pelo PTB Ronaldo Nogueira pediu demissão, no último dia 27. Ele se desligou com o argumento de que quer se dedicar à sua campanha pela reeleição.
No mesmo dia em que saiu da pasta, ele publicou nova portaria sobre a definição de trabalho escravo, que deixa mais rígidas as definições do que leva à punição do empregador.
Na data, Fernandes disse que havia sido convidado por Jovair Arantes e que não disputaria um novo mandato neste ano. “Foi um susto, mas estou topando. Já me refiz do susto e vamos lá”, afirmou.
Ainda segundo Fernandes, Jovair estava acompanhado de Nogueira no momento do convite, feito por telefone.
Flávio Dino diz que chance de um governo Temer dar certo é zero
Governador afirmou que Michel Temer fez discurso de campanha em áudio que ele “gravou e jogou na internet”
Durante evento da etapa da 2ª Conferência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Cnater), o governador Flávio Dino fez um duro discurso sobre a questão política nacional e afirmou que a chance de um possível governo Michel Temer dar certo é zero. O governador reafirmou que não muda de posição. Foi muito aplaudido pelos trabalhadores rurais.
Flávio disse temer o nível de divisão do país. “Nada é mais emblemático do que a divisão do muro na esplanda dos ministérios. Querem colocar o projeto de poder sobre o pacto civilizatório da democracia”. Ele chamou de farsa o processo contra a presidente Dilma, contra quem, segundo o governador, não existe nenhuma acusação.
“Esse processo juridicamente é uma farsa. Não fica cinco segundos de pé. Não é convicção política, apenas, é convicção jurídica. Não tem começo, meio e fim. Inventaram. Isso só pode ter um nome, é um golpe. Um golpe que está se montando contra a presidente Dilma. A dor da injustiça rasga a alma. Imagina uma mulher que não tem nada contra ela, não desvio dinheiro, não tem conta na Suíça entrar pra história como a presidenta que foi cassada? Isso é uma perversidade contra um ser humano”.
O governador foi duro ao comentar o áudio de Michel Temer que supostamente teria sido vazado. Flávio disse ser um absurdo o discurso de campanha e que a chance de um governo sem respaldo popular dar certo é zero. “Vocês viram o discurso de campanha do vice-presidente da República. É uma invenção surrealista um vice que faz campanha para depor a presidente. Um vice que tem 1% de intenção de voto. Ele fez discurso de campanha, gravou e jogou na internet. Um governo frágil, sem legitimidade, que vai por sacrifício aos mais pobres, sem base social, um programa econômico que é retrocesso. A chance de isso dar certo é zero”.
O comunista reafirmou sua posição e disse que não muda para aderir a um sistema de poder do qual não acredita. “Eu não sou oportunista. Sou uma pessoa de posição. Vou externar até o fim e com convicção que vamos vencer. Embora, possa gerar incompreensões momentâneas, no tribunal da história, estará lá a modestíssima presença do governador do Maranhão com a posição correta, defendendo a democracia, os mais pobres. A minha vida inteira foi assim e não é em uma hora de dificuldade que eu vou aderir a um sistema de poder que eu não acredito”, finalizou sendo aplaudido.