Índio Ka’Apor mostra ferimentos e cápsulas de bala
Por meio de nota, a executiva nacional da Rede Sustentabilidade denunciou nesta quarta-feira (23), “com extrema preocupação”, um ataque de madeireiros a indígenas no território Alto Turiaçu, no Maranhão. A etnia indígena atacada, segundo a Rede, são os Ka’Apor, que trava desde o último domingo (20) um conflito armado com os extratores de madeira, em razão de disputa de terras. Dois índios foram baleados e outros quatro estão desaparecidos, informa o documento.
Os índios Ka’Apor teriam descoberto que madeireiros haviam construído uma ponte sobre o Rio Turi para facilitar o acesso à extração ilegal e o transporte da madeira. No relato da Rede, os indígenas detiveram sete pessoas para entregar ao Ibama e incendiaram um caminhão e duas motos estacionados no povoado de Nova Conquista ,em Zé Doca.
Mais de 20 madeireiros fortemente armados invadiram o território dos Ka’ Apor. Os invasores teriam atirado pelas costas e depois correram para o mato. Dois índios foram baleados e quatro desaparecidos.
Confira a nota:
A Rede Sustentabilidade vem a público lamentar e também alertar com extrema preocupação sobre um ataque sofrido pelos indígenas Ka’ Apor, praticado por madeireiros nas regiões sudoeste e oeste do território Alto Turiaçu, localizado no estado do Maranhão. Desde o último domingo, 20 de dezembro, esse conflito armado instaurou um verdadeiro clima de tensão, em razão da disputa de terras. Desde então, dois índios foram baleados e outros quatro ainda estão desaparecidos.
O triste cenário começou a ser montado a partir de sábado, 18 de dezembro, quando 26 indígenas Ka’ Apor passaram a realizar o controle do incêndio nesse território, devido à conclusão do trabalho do Prevfogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais) do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), após dez dias na região. Na manhã de domingo, porém, o grupo se deparou com madeireiros que extraíam madeira ilegalmente em um dos ramais que havia sido fechado pelos indígenas para evitar extração da madeira.
Além disso, os indígenas descobriram que os madeireiros haviam construído uma ponte sobre o Rio Turi para facilitar o acesso à extração ilegal. Desta forma, eles apreenderam sete pessoas para entregar ao Ibama e atearam fogo em um caminhão e duas motocicletas usadas nessa irregularidade. Um dos detidos, no entanto, escapou e avisou os outros madeireiros que estavam no povoado de Nova Conquista, município de Zé Doca (MA).
A partir de então, instalou-se um clima de atrocidades e de terror contra os indígenas. Mais de 20 madeireiros fortemente armados invadiram o território dos Ka’ Apor. E, de acordo com relato dos índios, os invasores mandaram todos seguirem para frente das armas. Com isso, atiraram pelas costas e depois correram para o mato. Tamanha covardia resultou nos dois baleados e nos quatro desaparecidos.
Para piorar ainda mais a situação, os invasores fecharam, ainda no domingo, a entrada da aldeia e, na segunda-feira, 21 de dezembro, invadiram novamente o local e agrediram os homens da aldeia como também expulsaram as mulheres e as crianças, Os indígenas denunciam que dentro do território se encontram dois caminhões e dois tratores trazidos pelos madeireiros.
No entendimento da REDE, a condição instalada no território indígena causa ainda mais revolta porque os policiais estiveram na região acompanhados do prefeito do município de Zé Doca, Alberto Carvalho Gomes, mas nada fizeram para acalmar a situação. As autoridades ouviram apenas os não indígenas presentes na aldeia e retornaram para a cidade. No dia seguinte, a perseguição aos indígenas e os aliados da causa aumentou na cidade.
O problema se agravou ainda mais porque os órgãos de imprensa aliados dos madeireiros divulgaram uma versão distorcida dos fatos, como se os índios tivessem causado o conflito. Na verdade, a aldeia está sob o ataque de perigosos bandidos. Por outro lado, os apoiadores dos indígenas na região foram ameaçados de morte e correm o risco de se tornarem mais uma vítima desses foras da lei, como ocorreu com a liderança indígena Eusébio Ka’ Apor, assassinado por madeireiros em abril desse ano. Até o momento, esse crime não foi solucionado e segue impune.
Para a REDE, o fato que também causa muita preocupação é a lentidão do governo do estado do Maranhão e dos órgãos que deveriam atuar na proteção e apoio dos indígenas em relação ao clima de conflito instalado há algum tempo na região e tem se intensificado desde que os Ka’ Apor iniciaram a retomada de seu território. A partir daí, aumentou a perseguição contra os indígenas e apoiadores. Caso as autoridades competentes tivessem agido com mais rigor, certamente o embate não teria atingido essas proporções.
Fora isso, os Ka’ Apor denunciam ainda que os madeireiros se apropriaram dos equipamentos de trabalho de mapeamento dos focos de incêndio e estão identificando as pessoas e fazendo sérias ameaças. E foi somente após recorrer ao Ministério Público que os indígenas receberam a informação de que a Polícia Federal se deslocaram para a região.
A REDE entende que muitos municípios existentes no entorno do território Ka’ Apor vivem exclusivamente da exploração de madeira, o que torna a atividade essencial para região. No entanto, essas cidades não podem sustentar o seu principal pilar econômico por meio da extração ilegal, como tem acontecido e prejudicado a comunidade indígena existente. Ainda na avaliação da REDE, é preciso que as os órgãos competentes atuem com mais ênfase como forma de apaziguar esse verdadeiro clima de terror instalado no local e punir rigorosamente e de forma exemplar os responsáveis pelos crimes homicídio e tentativa de homicídio, cometidos contra os indígenas no local.
Comissão Executiva Nacional
Rede Sustentabilidade”