Por Clodoaldo Corrêa e Leandro Miranda
O deputado estadual Adriano Sarney (PV) concedeu entrevista exclusiva aos Blogs Marrapá e Clodoaldo Corrêa. O herdeiro político do grupo Sarney diz que a alternância de poder foi boa para o Maranhão e as perspectivas de futuro para seu grupo político com o fim da Era Sarney no poder.
Não à toa o deputado participou ontem do ato de filiação da vereadora Rose Sales ao PP. Adriano também anunciou que pretende concorrer ao cargo de prefeito de São Luís, afirmando que o PV tem que ter candidato na capital para ganhar musculatura, mas também está de olho na possibilidade de concorrer em Paço do Lumiar, onde quase foi candidato em 2012.
O neto do maior oligarca do Brasil diz que não está na Assembleia para ser um defensor dos governos passados nem uma oposição ferrenha ao governo Flávio e até admite que o governador trabalha até altas horas. E abriu até a possibilidade de diálogo com o atual governo. Mas afirma que fará defesas de seu avô e criticas e assuntos pontuais do governo. Para o neto de Sarney, toda a classe política do Maranhão tem parcela de culpa pelos índices de pobreza do Maranhão.
Sobre a operação Lava Jato, Adriano afirma que não dará em nada.
Hoje só o senhor e seu pai carregam o sobrenome Sarney com mandato. Como é carregar o sobrenome Sarney e qual é o papel da família agora como oposição?
Vivemos num novo momento. Já disse isso e já foi repercutido até na mídia nacional. O ciclo Sarney acabou, aí gostam de distorcer o que eu falo, mas o grupo ainda existe, mas não sei se esse grupo pode se chamar de grupo Sarney ou não, É um núcleo que a gente continua fazendo política. Eu como Sarney venho mais para trabalhar as minhas propostas que são: desenvolver o Maranhão seguindo as suas aptidões econômicas e potencias das regiões. Esse é o meu foco. Quando entrei na Assembleia, articulei para ser o presidente da comissão de assuntos econômicos justamente para dar vazão às questões econômicas. Como já disse varias vezes: não estou aqui para defender o governo passado ou até mesmo fazer oposição pesada ao atual governo. Faço algumas defesas ao meu avô, é natural. Mas eu faço oposição muito pontual em determinadas situações. Não farei oposição por fazer. Tenho que fazer uma oposição responsável. Não tenho problema nenhum em votar em todos os projetos de lei do governador. Tenho votado na maioria e não vejo problema nenhum. Foi bom e sadio essa alternância de poder. Claro que vou cobrar o que essa alternância vai trazer ao Maranhão. Isso será a minha maior cobrança.
Por que o senhor desistiu da candidatura a prefeito de Paço do Lumiar em 2012?
Na época, fui apoiado pela Bia Venâncio. A ideia era sair numa chapa. Eu estava atuando no Partido Verde, onde comecei minha carreira política. Fiz a articulação com o grupo da prefeita para sair como vice numa eventual reeleição dela, certo? A situação lá da prefeita foi ficando difícil. Ela começou a ver que não conseguiria se reeleger e a gente ponderou uma série de candidatos. Comecei a trabalhar politicamente e meu nome começou a aparecer. A gente fez algumas pesquisas, cheguei a ficar em segundo lugar. Na hora de realmente definir a minha candidatura, a família, o meu grupo político, preferiu, e até forçou a barra, para eu não sair candidato, pois eles entendiam que ia ser um desgaste para a gente, que ia ser difícil, que eu tinha chegado há pouco tempo lá, que seria aquela velha questão do candidato paraquedas. Naquele momento expressei a vontade de ser deputado estadual. O grupo garantiu que me apoiaria.
O senhor tem planos para se candidatar a prefeito novamente em 2016?
Não descarto a candidatura nem em Paço do Lumiar e nem em São Luís. Hoje, a situação de Paço do Lumiar está até favorável para mim. Tem o desgaste do prefeito e existem algumas lideranças lá, mas não são lideranças consolidadas. Existe uma situação muito favorável lá em Paço do Lumiar, mas resta saber se pra mim, que acabei de chegar na Assembleia, vale a pena dar continuidade aqui a um projeto ou focar no projeto de ser candidato ao executivo. Também cogito concorrer em São Luís. Meu título é de Paço do Lumiar, mas também cogito ser pré-candidato aqui. O Partido Verde precisa se posicionar, precisa tomar musculatura. Temos quatro deputados estaduais, dois federais. A gente pretende lançar candidatos nas maiores cidades do estado. Não descarto o fato de ser pré-candidato ou talvez disputar uma candidatura em São Luís a prefeito ou a vice-prefeito.
Até que ponto o grupo do qual o senhor faz parte é responsável pelos péssimos índices sociais que o Maranhão apresenta hoje?
Muita gente confunde o Maranhão rico com o Maranhão pobre. Riqueza pode ser medida por PIB. O Maranhão é a décima sexta maior economia do Brasil. É um estado teoricamente rico, mas tenho andado pelo estado inteiro e visto muita pobreza. Nós temos muita pobreza no Brasil. Não concordo que atribuir as mazelas do Maranhão a um grupo ou até mesmo uma pessoa seja coerente e certo, até porque muitos desses que falam em cinquenta anos foram secretários, prefeitos e participaram dos governos anteriores. Agora é um momento bom para a gente avançar. O grupo Sarney não tem mais governo, não tem mais a força que tinha antes na esfera federal. A Assembleia em grande maioria apoia o governo atual. Então, esse argumento a partir de agora está sujeito à avaliação daqui pra frente.
A sua tia Roseana é uma das investigadas no escândalo da Lava Jato. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
As pessoas tendem a confundir a Lava Jato. Existem duas questões em relação a essa operação. Uma investigação diz respeito à Lava Jato e outra à questão do precatório [da Constran] que está aqui em São Luis. São duas coisas diferentes. Existem contradições nas falas do Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. Num primeiro momento, o Paulo Roberto falou que o Lobão pediu para ele recursos para a campanha de reeleição da Roseana; depois, num segundo momento, ele se contradiz no segundo interrogatório. Aí depois, ele retorna no Congresso nacional com a pergunta da Eliziane Gama e reafirma tudo. Por que ele reafirma? Ele tem de reafirmar as coisas se não perde a delação premiada. Perguntaram ao doleiro a respeito disso e o doleiro disse que não lembrava dessa situação. Então, está tudo muito vago e solto. Ela vai lá depor, não sei como vai caminhar esta situação. Acho que isso não vai pra lugar nenhum. No que diz respeito ao precatório, o nome da governadora não foi mencionado. Mesmo o nome do ex-secretário João Abreu que foi mencionado, não foi mencionado que o doleiro deu recursos para o João Abreu. São questões que estão sendo colocadas por pessoas que cometeram ilícitos e que a gente tem que ponderar a credibilidade porque são pessoas que cometeram ilícitos, então vamos ponderar isso.
Inclusive a Revista Época chegou a citar o seu nome em um possível esquema da Petrobrás. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Foi uma injustiça que fizeram comigo. Fizeram um apanhado muito maluco. Pegaram uma pessoa que no passado era meu amigo, filho de um deputado federal quando eu morei em Brasília. Meu pai sempre foi deputado federal, então tinha vários amigos filhos de deputados federais. Era o pessoal que eu andava, estudava, amigos meus e tal… Pegaram o filho do ex-deputado Fernando Diniz e colocaram lá nessa reportagem que nós andávamos e fazíamos coisas ilícitas, segundo um lobista. A fonte que o jornalista usou foi um lobista. Eu poderia interpelá-lo para saber exatamente o que estava acontecendo em relação a isso. Não ia ter fundamento nenhum… Pegam ligações com pessoas do passado e fazem esse tipo de ilação.
Esse caso tem relação com o atual escândalo da Petrobrás?
Não tem relação nenhuma até porque… Não sei se esse meu amigo tem alguma relação com alguma coisa. Eu não sei. Eu era amigo dessa pessoa e não sei como é que está esse caso dele lá. Eu não sei o que que… Enfim, não me interessei e nem quero saber.
Qual sua avaliação dos quatro primeiros meses do governo Flávio Dino?
Acredito que o governador quer acertar. Ele está se esforçando. Tenho noticias de pessoas que falam que ele trabalha até altas horas lá no Palácio. É do perfil dele. O problema é a questão de ter uma equipe, gente preparada para fazer o trabalho. O governador sozinho não consegue fazer muito, precisa de auxiliares. Acho que o Flávio quer acertar, mas peca em relação à questão da equipe. Ele tem que descer do palanque, ser mais humilde, admitir que é difícil governar e tentar dialogar com a oposição, consertar alguns erros. Eu coloco algumas coisas na minha atuação, falhas administrativas que podem ser corrigidas. Mas fica aquela insistência em não querer corrigir que gera um desgaste. Ele quer fazer um bom governo – tenho certeza absoluta disso. Talvez ele tenha que demitir secretários, ser humilde para admitir que errou sem medo da oposição e a imprensa. O governador tem que baixar o discurso do palanque e focar na gestão. Tem que chamar todo mundo pra dialogar, botar o secretário de articulação para conversar com a oposição e fazer o que todos nós queremos fazer: mudar o Maranhão. Sei que a estratégia do governo é a estratégia da herança maldita, que te dá uma carta de seguro para botar na conta da gestão passada.
E da Assembleia?
Esta Assembleia foi criada de forma muito estranha. Vi muita dificuldade na composição dos blocos. Alguns blocos sendo criados de maneira muito esquisita, como foi o nosso bloco do qual o PV fez parte…. O próprio líder do governo, o Rogério Cafeteira, até pouquíssimo tempo defendia o governo passado. Hoje já está muito melhor do que começou, pois existe um grupo de quatro oposicionistas. Quem é governo é governo, quem é oposição é oposição. Existem alguns excessos de sentimentos na Assembleia. Eu até entendo a razão. É difícil você discutir com pessoas que até pouco tempo eram amigos, discutiam políticas juntos e passaram anos no mesmo grupo. Então tudo isso gera confusão, mas acredito que a tendência é melhorar. Nas comissões esta legislatura está fazendo um excelente trabalho. Tenho conversado com funcionados e ouvido que temos deputados muito atuantes no que diz respeito a audiências e a interlocução com a sociedade. Vamos ser uma legislatura que vai marcar os 180 anos da Assembleia.